#11 Atitudes do Paciente
Somos pessoas, não somos máquinas. Observar e julgar a atitude do outro é natural. Podemos fazer isso de forma leiga, julgando aspectos supérfluos ou fazer de forma técnica.
Somos pessoas, não somos máquinas. Observar e julgar a atitude do outro é natural. Podemos fazer isso de forma leiga, julgando aspectos supérfluos ou fazer de forma técnica, absorvendo aquilo que é importante para a análise clínica.
Este assunto foi abordado no episódio abaixo:
A atitude é a maneira que o paciente vai se portar frente ao examinador e à entrevista. Examinador é o psicólogo ou psiquiatra que está ali à sua frente. Quase não há termos técnicos para descrever as formas de atitudes, então a semiologia recorre ao vocabulário coloquial, formas de expressão cotidianas.
Teremos dois polos de atitudes: DESEJÁVEIS E INDESEJÁVEIS
Atitudes desejáveis são aquelas que contribuem positivamente para a realização da avaliação e estão relacionadas a consciência da morbidade, ou seja, de saber que algo está disfuncional ou prejudicial em seu comportamento, emoções ou pensamento. São exemplos: Cooperante; Amistosa; De confiança; Interessada.
O examinador não deve provocar ativamente qualquer atitude no paciente. A atitude do paciente deve ser espontânea, para uma avaliação fidedigna.
ALTERAÇÕES DA ATITUDES
As atitudes apresentadas a seguir são sugestões do que pode ser encontrado na clínica, podem existir outras, aqui não listadas, e o paciente pode apresentar mais de um desses comportamentos.
AMANEIRADA » Comportamento caricatural. Ex.: curvar-se como forma de cumprimento.
ARROGANTE » Demonstra superioridade e o trata com desdém.
DRAMÁTICA » Hipersensibilidade e emoção à 'flor da pele'.
DESINIBIDA » Não se sente constrangido em abordar qualquer tema, até mesmo da sua vida sexual. Pode tornar-se inconveniente e por vezes violar certas normas sociais. Ex.: assediar sexualmente o entrevistador.
DISSIMULADORA » Oculta um sintoma (ou doença) existente com um objetivo específico. Ex.: receber alta da internação.
ESQUIVA » Não deseja contato social.
EVASIVA » Sem se recusar explicitamente, evita certos assuntos.
EXPANSIVA » Contato social exacerbado, trata o interlocutor como se fossem íntimos.
FUGA » Apresenta medo de estar sendo avaliado.
GLISCROIDE (OU VISCOSA) » Grudento, não quer que a entrevista acabe, quer continuar ali, querendo contato todo o tempo.
HOSTIL » Ofende, ameaça ou agride fisicamente o examinador
INDIFERENTE » Não demonstra nem cooperação nem incômodo.
INIBIDA (OU CONTIDA) » Dificuldade de contato visual e demonstra estar pouco à vontade.
IRÔNICA » Recorre a piadas e um tom de voz que remete sua arrogância e agressividade (passivo-agressivo).
INVASIVA » Deseja saber sobre a vida pessoal do examinador. Faz perguntas íntimas ou mexe nos objetos do consultório sem permissão.
JOCOSA » Frequentemente faz piadas ou brinca
LAMURIOSA » Queixa-se a todo tempo de seu sofrimento e demonstra autopiedade exacerbada.
MANIPULADORA » Tenta obrigar o médico a fazer o que quer através de ameaças ou chantagem emocional.
OPOSIÇÃO (OU NEGATIVISTA) » Recusa em participar da entrevista.
PUERIL » Comportamento como o de uma criança. Ex.: faz pirraça, brinca, o chama de tio.
QUERELANTE » Por se sentir prejudicado, ofendido ou sugado, briga e discute.
REIVINDICATIVA » Exige, de forma insistente, que aquilo que julga ser seu direito seja atendido. Ex.: ter alta da internação ou que uma determinada medicação seja prescrita.
SEDUTORA » Elogia ou tenta despertar o interesse sexual.
SIMULADORA » Tenta parecer que tem um sintoma (ou doença) na verdade ausente (contrário de dissimulação).
SUBMISSA » Atende a todas as solicitações do examinador, passivamente.
SUSPICAZ (OU DE DESCONFIANÇA) » Perguntas formuladas sempre com desconfiança do entrevistador, costuma estar relacionada a uma atividade delirante. Ex.: “Qual sua formação?”, “Há microfones escondidos?", “Está filmando?”.
TEATRAL » Parece estar fingindo, exagerando ou querendo chamar a atenção de terceiros.
REAÇÃO DE ÚLTIMO MOMENTO » Após intenso negativismo, quando o examinador já está desistindo do contato, o paciente começa a cooperar com a entrevista. Comum em quadros catabúlicos.
ATITUDE NOS TRANSTORNO MENTAIS
Os exemplos abaixo não são verdades absolutas, são atitudes que podem comumente observadas em cada quadro.
TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR (TDM)
Atitude lamuriosa, queixosa ou indiferente - não demonstra se queria ou não estar ali, pelo desinteresse característico.
EPISÓDIO MANÍANO (TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR)
Atitude expansiva, desinibida, jocosa, irônica, arrogante ou hostil. Demonstra muita intimidade como examinador.
ESQUIZOFRENIA
Atitude indiferente é comumente observadas nos quadros que predominam sintomas negativos ou catatonia. Atitude de oposição e reação de último minuto são vistos em pacientes catatônicos Atitudes suspicaz, hostil, querelante, de fuga, pueril são comuns na fase ativa, quando o delírio está mais proeminente.
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
Pacientes fóbicos tendem a apresentar uma inibição excessiva. E quadros mais intensos de ansiedade podem apresentar uma alta irritabilidade.
TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
Transtorno de Personalidade Borderline podem apresentar atitudes manipuladoras e de hostilidade, a depender do vinculo estabelecido com o profissional.
Transtorno de Personalidade Antissocial podem ser sedutores, manipuladores e hostis.
RECOMENDAÇÕES
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