#27 Orientação
Nossa capacidade de nos situarmos: no espaço, no tempo, em nós mesmos, em relação ao outro e no ambiente.
Estudar funções psíquicas, à primeira vista, nos parece bobo, quase que óbvio. Óbvio que todos sabem o que é orientação! A grande questão é saber identificar quando ela não está presente ou quando está alterada - e o que isso significa na avaliação de um paciente. Investigar a orientação é um recurso útil para avaliar o grau de consciência do sujeito, porque esta função psíquica requer integridade das capacidades do nível de consciência, atenção, percepção e memória.
Este tema foi abordado no episódio abaixo:
TIPOS DE ORIENTAÇÃO
ORIENTAÇÃO AUTOPSÍQUICA
Orientação do sujeito sobre si mesmo, sobre saber quem é » seu nome, idade, profissão, estado civil, com quem mora, etc.
ORIENTAÇÃO ALOPSÍQUICA
Orientação em relação ao entorno » tempo, espaço e em relação a outras pessoas. Outras funções psíquicas afetam o funcionamento desta. Quando a orientação alopsíquica está afetada / alterada, há de se buscar qual outra função psíquica está alterada originalmente para afetar esta.
ORIENTAÇÃO ESPACIAL
É uma habilidade complexa que exige diversas habilidades.
Local » onde o sujeito está no momento;
Topográfica » ter noção do arranjo de sua casa / quarto;
Geográfica » noção do bairro, cidade, estado, país;
Julgamento de distâncias » quão longe está de casa;
Navegação » conseguir seguir caminhos / rotas
ORIENTAÇÃO TEMPORAL
Indica a capacidade do sujeito sobre o momento em que está vivendo e noções de duração »
Se é de manhã, tarde ou noite;
Qual dia da semana, mês, ano, época do ano.
A temporalidade (timing) exige maior desenvolvimento cognitivo do indivíduo em relação à espacialidade. É uma das primeiras e mais afetadas funções psíquicas.
A Desorientação inicia em relação ao tempo (elemento mais dinâmico) » seguindo a espacial » pessoas » situações e, por último, auto psíquico.
ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS DA ORIENTAÇÃO
DESORIENTAÇÃO PARCIAL
Um indivíduo pode dizer em que ano/mês estamos mas não ser capaz de dizer o dia da semana ou o dia do mês – está parcialmente desorientado no tempo, por exemplo.
CONFUSIONAL
Nível de consciência rebaixado gerado por uma intoxicação ou com patologia orgânica. Há dificuldade de dizer onde está ou em que ano está.
AMNÉSICA
É a desorientação da memória (veja Memória). Se apresenta como uma turvação da consciência afetando memória de trabalho (memória de curto prazo) e o nível de concentração. Tendo a memória afetada, retém menos informações e se desorienta da realidade. Geralmente associado a quadros demenciais e presente na síndrome de Korsakoff.
Consciência » Memória » Atenção » Orientação
DEMENCIAL
Similar à amnésica, mas além do prejuízo de memória imediata também sofre pelo déficit do reconhecimento ambiental (agnosias). Comum no Alzheimer e demências vasculares.
APÁTICA
Desorientação de afeto – apatia e desinteresse. Diferença afetiva tão grande que causa uma desorientação apática. Torna-se desorientado pela falta de interesse no mundo, não se detendo aos estímulos ambientais. Geralmente presente na depressão e na esquizofrenia.
ALTERAÇÕES QUALITATIVAS DA ORIENTAÇÃO
Falsas Orientações » Além do indivíduo estar desorientado quanto ao tempo ou local, insere informações incorretas naquele campo, naquela dimensão da orientação.
CONFUSO ORINÓIDE
Ocorre quando o indivíduo está com rebaixamento da consciência. Ex. está num hospital e quando perguntado onde está, apesar de não saber onde, diz que está em casa.
PARAMNÉSIA
Insere uma informação numa lacuna de memória. Ou seja, é uma fabulação. Acontece geralmente em sujeitos em quadros demenciais.
DELIRANTE
Desorientação de espaço e tempo por conta da condição delirante. O sujeito pode apresentar dupla orientação: uma do delírio e outra da realidade. Pacientes psicóticos apresentam esse quadro.
POR DÉFICIT COGNITIVO
Dificuldade ou incapacidade de compreender aspectos complexos do ambiente, de reconhecer e interpretar as convenções sociais que padronizam as orientações dos indivíduos (calendário, horário, direcionamento, etc.) Ocorre em casos de deficiência intelectual.
VIVÊNCIA NO TEMPO E ESPAÇO
Estou, logo sou
É uma questão filosófica: só nos situamos na nossa vivência através das condicionantes temporais e espaciais. Espaço e tempo são condicionantes fundamentais do universo humano e estruturantes básicos da nossa experiência.
A experiência de temporalidade é envolvida pelas emoções da experiência e afeta a noção subjetiva.
Tempo Objetivo » cronológico, mensurável
Tempo Subjetivo » pessoal, interior
BRADIPSIQUISMO » Lentidão das funções psíquicas gerais. Ocorre em Depressões graves.
TAQUIPSIQUISMO » Aceleração das funções psíquicas. Ocorre em episódios de Mania.
ALTERAÇÕES NA VIVÊNCIA DO TEMPO
ILUSÃO SOBRE A DURAÇÃO DO TEMPO
Deformação acentuada da percepção da duração temporal.
Ocorre na intoxicação por alucinógenos, psicoestimulantes, fases agudas de psicoses e em situações emocionais intensas ou quando em contato com informações novas.
ATOMIZAÇÃO DO TEMPO
Perda ou enfraquecimento da noção subjetiva de tempo.
Acontecimentos passados e momento presente não se articulam. Não há uma percepção fluida do tempo. Sensação que a vida acontece em átomos, em momentos.
PERDA DE CONTINUIDADE
Comum na fase de mania dos pacientes com transtorno bipolar.
INIBIÇÃO DO FLUIR DO TEMPO
Descompasso entre a percepção interna e externa.
Como se o tempo encolhesse, não passasse. Comum em pacientes depressivos.
ALTERAÇÕES NA VIVÊNCIA DO ESPAÇO
ESPAÇO EM ÊXTASE
Perda da fronteira entre o interno e o externo. Sensação de que não há diferença entre eu e o mundo. Integração entre o físico e o ambiente.
ESPAÇO DILATADO
Espaço altamente dilatado e amplo. Não reconhecendo o limite dos outros. Percepção de que tudo é muito grande, espaçoso.
Presentes em episódios de Mania.
ESPAÇO ENCOLHIDO
Espaço exterior é pequeno, contraído, escuro e de pouco acesso ao sujeito.
Presente em estados depressivos.
ESPAÇO INVADIDO
O espaço exterior geralmente é bastante ameaçador. O espaço interior é ameaçado, temeroso, pode ser invadido por terceiros. Como se tivesse mais gente naquele “ambiente” interno, espionando, invadindo-o.
Presente em estados paranóides.
AGOROFOBIA
Quadro ansioso em que o espaço exterior é sufocante, perigoso.
COMO EXAMINAR ORIENTAÇÃO?
ALOPSÍQUICA
Observar:
Expressão fisionômica;
Ordenação da história contada;
Adequação do comportamento ao ambiente que está inserido;
Investigue a orientação “do mais fácil para o mais difícil”
Se o paciente tiver dificuldade em responder, pergunte:
Onde fica sua casa?
Que lugar é este?
Onde estamos agora?
Porque você está aqui?
TEMPORAL
Que dia é hoje?
Que mês?
Que dia da semana?
Em que ano estamos?
Qual a época do ano (começo, meio ou fim do ano)?
Aproximadamente que horas são agora?
Atentar-se que, alguns sujeitos com baixa escolaridade podem, eventualmente, apresentar dificuldades na orientação temporal e, sobretudo, nas noções de duração e continuidade temporal. O contexto social deve ser SEMPRE levado em consideração.
ESPACIAL
Onde estamos?
Como se chama a cidade em que estamos?
E o bairro?
Qual o caminho e quanto tempo leva para vir da sua casa até aqui?
Que edifício é este (hospital, ambulatório, consultório, etc.) em que estamos?
Em que andar estamos?
AUTOPSÍQUICA
Quem é você?
Qual o seu nome?
O que faz?
Qual a sua profissão?
Quem são seus pais?
Qual a sua idade?
Qual o seu estado civil?
ALTERAÇÕES DE ORIENTAÇÃO NOS TRANSTORNOS
» TRANSTORNOS DEPRESSIVOS
Bradipsiquismo » lentidão das funções psíquicas gerais, passagem do tempo percebida como lenta e vagarosa.
Desorientação apática
» TRANSTORNO BIPOLAR - EPISÓDIO MANÍACO
Taquipsiquismo » aceleração das funções psíquicas; passagem de tempo percebida como rápida e acelerada.
Desorientação temporal » há autores que falam de uma percepção acelerada do tempo pelos indivíduos em mania, muito influenciada pela insônia sofrida.
» ESQUIZOFRENIA
Dificuldade de orientação temporal;
Falsas orientações delirantes;
Dupla orientação delirante;
Desorientação apática;
Desarticulação da percepção do fluir do tempo.
» TDAH - TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
Dificuldade de orientação por consequência do déficit atencional.
RECOMENDAÇÕES
Livro - Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais » Paulo Dalgalarrondo