#28 Merecidas férias (?)
Após uma longa pausa, voltei dividindo uma reflexão. Numa sociedade em que produtividade é a lei, precisamos falar sobre a culpa em sair de férias e pausar.
Disclaimer: A intenção aqui não é glamourizar a alta produtividade e a culpa pelo descanso, mas refletirmos sobre o quanto podemos entrar em um piloto automático e seguir.
Uma mistura de “saudades de casa” e “queria ficar lá para sempre”.
Este é o motivo do sumiço daqui nos últimos meses - entre preparativos finais para a viagem, adiantar diversas coisas para as duas semanas que ficaríamos fora e mergulhar de cabeça na viagem para curti-la bastante... Além disso, reta final do semestre, somado a relatórios de estágio a serem entregues com demandas requisitadas na véspera e ainda uma monografia tomando forma… Tiveram semanas que foram mais difíceis de manter todos os pratos girando. Algo teve que ser deixado de lado. Sacrifiquei a newsletter, sorry.
Se você me acompanha lá no Instagram deve ter visto as centenas de stories que postei ao longo dos dias na tentativa de registrar pequenos frames de cada lugar que passamos.
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Tenho pensado em alguns tópicos para elaborar e trazer para cá desde o momento em que decidimos que merecíamos férias, então acho que esse é um bom momento para compartilhar aqui, no meu retorno.
Semana que vem retorno com os assuntos mais técnicos, sorry (2).
Por motivos de agenda profissional da Maria, minha esposa, e também por não querermos viajar na super alta temporada, decidimos ir agora em maio.
Primeira etapa: escolher os destinos
Lista de destinos que quero conhecer é tão longa quanto a lista de livros que quero comprar (ou dos que já comprei e estão na espera de serem lidos). Já me acostumei com a ideia que uma vida só não daria conta de tantos lugares (tempo e $$$) e tantos livros para ler… mas sigo alimentando as duas!
Os últimos três anos foram muito difíceis para todos imagino. Vivenciar uma pandemia foi uma loucura. Vivenciar uma pandemia, a perda dos meus pais e ainda três mudanças de casa, considerando uma mudança de estado no meio do caminho, foi cansativo. Desde meados de 2020 estávamos por aqui meio que no piloto automático, “do que tinha que ser feito”… não pensávamos muito em coisas tão divertidas, estávamos dando check na lista de deveres, de responsabilidades.
Enfim, chegamos a 2023 e decidimos que PRECISÁVAMOS de uma pausa. E sinceramente, queríamos diversão. Queríamos desopilar. Rir. Brincar. Como crianças.
Decidimos que iriamos a Disney. Eu fui pela primeira vez (e única até então) pra lá em 2013, Maria só tinha ido criança, com 11 anos. Ela tinha uma vaga lembrança, mas de criança… não lembrava de muita coisa e manteve por muitos anos aquele preconceito bobo de “tem tanto lugar no mundo pra ir”. Já eu, quando fui em 2013 estava em uma das piores fases da minha vida. Muito infeliz com o relacionamento que eu tinha, comigo mesma (tanto em aparência física, quanto na pessoa que eu era), uma auto estima baixa, estava de mal com o mundo. A viagem foi muito legal, viajei com mais um casal de amigos muito amados. Mas longe de ter sido ótima, eu não estava bem e isso obviamente interferiu na minha experiência. Voltei de lá decidida a fazer terapia e, bem, foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Nos últimos anos TANTA coisa mudou.
Após 10 anos, achei que merecia dar uma segunda chance a Orlando e voltar a ser criança. A vida já é tão séria… e foi uma decisão acertada, viu? Passamos quatro dias na cidade e nos divertimos TANTO! Foram tantas montanhas russas e tanto frio na barriga e tantas risadas. Foi exatamente o que precisava ser: LEVE.
Já o segundo destino tínhamos em mente desde fomos lá em 2018, na nossa lua de mel: NYC. Voltamos de lá encantadas com a cidade e querendo voltar todos os anos. Mas a vida acontece, uma pandemia acontece, outras prioridades acontecem, o dólar astronômico acontece. E o plano de frequentar NYC anualmente não pôde ser concluído com sucesso. Mas após 5 anos voltamos para aquela cidade de deslumbre. Sim, sou super deslumbrada com a cidade, acho que ela tem uma energia ótima e caótica. Tudo junto e misturado. E dessa vez, ficamos 9 longos e agradáveis dias na cidade. Foi espetacular.
Planejamento de viagem e saída do piloto automático
Aqui em casa temos as atividades de viagem bem divididas: Maria trabalha no convencimento, no meu desespero de “o dinheiro não vai dar!”, e depois de convencida e passagens compradas, eu sou a oficial planejadora. Passo meses/semanas, pesquisando tudo em detalhes… estudando o mapa das cidades, sabendo como iremos nos locomover, fechando ingressos, hotéis, passes, etc… eu gosto dessa atividade. Gosto mesmo.
Mas mesmo gostando muito, senti um enorme desconforto dessa vez.
Esse planejamento de viagem estava “concorrendo” com outras atividades da minha vida… com as obrigações, com o estudo, com os cursos, com tudo. Me vi muitas vezes irritada em fazer isso, chateada porque “tinha” que parar para pesquisar a viagem (lembrando que era uma viagem de ferias, algo para nos divertir… White people problem total, eu sei). Muitos pensamentos de culpa e cobranças por estar pausando passavam pela minha cabeça. Apesar de saber, racionalmente, que não fazia sentido aquela sensação em muitos momentos ela me dominava.
Fui me dando conta que, obviamente, não era a viagem que estava me chateando. Não havia motivos da viagem em si ser uma chateação: uma viagem de férias, um baita privilégio, indo confortavelmente para dois destinos que queríamos muito.
Então, o quê? O que estava me chateando?
A saída da rotina. Algo fora do cotidiano. Uma estava tendo que flexibilizar, tendo que mexer em algo que já estava estabelecido.
Desde que decidi mudar de profissão, sempre tive em mente que levaria muito a sério esses anos dedicada a estudar. Que minha formação seria o mais completa possível. E conforme os anos foram passando e principalmente os últimos com todos os percalços que atravessamos, os estudos foram tomando uma proporção (talvez) maior que o devido. Por muitos meses, foram minha válvula de escape para uma saudade imensa, preencheram o vazio e a mesmice do isolamento e, de quebra, aliviavam a ansiedade da vida pós formação.
Então, após me dar conta que eu estava encarando a viagem como uma concorrência dos meus estudos e, consequentemente, uma concorrência a minha boa formação como psicóloga, passei a flexibilizar. Sim, minha formação é importante, obviamente. Mas meu tempo de qualidade com minha família também é. Meu descanso também é. Ter dias só para andar por ai, tendo como única preocupação a escolha do almoço e jantar ao lado da mulher que mais amo na vida era um privilegio e eu tinha que encarar isso com a mesma seriedade. Porque isso, tanto quanto ser uma ótima profissional, é VALIOSO para mim.
Então, meus queridos, a questão aqui é: “O que tem VALOR para você?”.
Isso nada tem a ver com o tanto de dinheiro ou privilegio que temos. Tem a ver com o que é imprescindível para nós. O quanto estamos investindo do nosso tempo, dinheiro e energia em nossos valores inegociáveis. Para mim, de nada adianta ser a melhor estudante e futura psicóloga que já existiu, se eu não tiver um relacionamento saudável.
As vezes precisamos sim, sair do piloto automático do “fazer”, do “produzir”, do “tem que”. E olhar um pouco para o que importa.