#19 O que é ATENÇÃO?
Há uma uma quantidade gigantesca de estímulos a que estamos expostos, afetando nossa capacidade de atenção. Selecionar, filtrar e organizar informações é essencial para nossa (boa) vivência.
Este assunto foi abordado no episódio abaixo:
Selecionar, filtrar e organizar informações.
CARACTERÍSTICAS DA ATENÇÃO
» Voluntária x Espontânea
Atenção Voluntária exprime a concentração intencional a um objeto. Atenção Espontânea surge a partir de um estímulo incidental que desperta o interesse em um objeto. Em estados mentais em que o sujeito tem pouco interesse voluntário, a atenção espontânea ocorre com mais frequência.
» Interna x Externa
Atenção Externa é voltada ao ambiente, ao mundo, a terceiros, ao corpo físico e à natureza sensorial. Atenção Interna é voltada aos processos mentais, é mais reflexiva, introspectiva e meditativa. Muito comum em pacientes com pânico/ansiedade e em casos de devaneio excessivo.
» Tenacidade x Vigilância
Tenacidade é a capacidade de focar e se manter em determinado estímulo / fenômeno do ambiente. Fundamental para que possamos executar tarefas que exijam nossa atenção por um período mais longo. Vigilância (também chamado de mobilidade) é capacidade de mudar o foco dependendo do estímulo / fenômeno. São características antagônicas.
Nos estados maníacos, o sujeito tem hipotenacidade e hipervigilância. Ou seja, baixa capacidade de se manter focado em um assunto e alta tendência a mudar o foco diversas vezes.
» Habituação x Sensibilização
Habituação é quando apresentado diversas vezes a determinado estimulo, o corpo habitua-se, acostuma-se. Sensibilização é o oposto à habituação, é o estado de alerta quando um novo estímulo é apresentado. Quando o organismo passa a responder mais na contínua apresentação do estímulo, ao invés de habituar, reage mais, excita-se mais.
TIPOS DE ATENÇÃO
» Capacidade e Foco de Atenção
Concentrar e focalizar a atenção em determinado objeto ou tarefa. A capacidade de concentração está relacionada com a quantidade de operações mentais que precisam ser feitas e à dificuldade das tarefas a serem desempenhadas.
» Atenção Seletiva
Manutenção da atenção APESAR da presença de estímulos distratores.
Bottom-up » quando o cérebro, automaticamente, seleciona e capta os estímulos notáveis do ambiente.
Top-Down » esforço consciente do sujeito de concentrar a atenção a determinado alvo e modificá-lo quando for conveniente.
» Atenção Dividida
Quando a atenção é dividida a dois ou mais processamentos. É o que ocorre com mais frequência na vida cotidiana. Exemplo: dirigir e escutar música; fazer faxina e escutar podcast; andar na esteira da academia e ver série.
» Atenção Alternada
Quando, voluntariamente, alterna-se a atenção. Parar um foco para acionar outro e depois voltar. Exemplo: está escutando música, atende o telefone e depois retorna a apreciar a música.
» Atenção Sustentada
Capacidade de manter o foco durante um longo período. Esta capacidade varia ao longo da vida (normalmente diminuiu) e depende de diversos outros fatores, como: estímulos alvos e distrativos, nível de consciência, motivação e fadiga.
RELAÇÃO DA ATENÇÃO COM AS DEMAIS FUNÇÕES PSÍQUICAS
» Vontade e Afeto »»» Atenção
A atenção é afetada pela vontade e afeto.
Crianças com TDAH conseguem ficar paradas para assistir um filme que gostam muito, se concentrar em determinadas brincadeiras e ficar perto de pessoas que elas tenham bastante intimidade ou afinidade. É como se a disfunção normal daquele indivíduo atenuasse quando está exposto a fatores em que tenha desejo e afeto.
» Atenção »»» Sensopercepção
A atenção afeta a sensopercepção.
Ocorre nos casos de ilusões. A ilusão é basicamente ligada a atenção e à clareza da consciência, sendo uma confusão. Exemplo: uma mãe que, privada de sono, no meio da noite acorda achando que é o bebe chorando, na verdade era um barulho no vizinho. Depois se dá conta da sua confusão.
Na alucinação o estímulo é criado e o indivíduo não sabe que não existe.
A técnica Mindfulness – voltar a atenção para si - ajuda na melhora da sensopercepção.
» Atenção »»» Memória
A atenção afeta a memória.
É comum que a queixa do paciente seja falta de memória, quando percebe que está esquecendo coisas ou identifica uma falha da memoria de curto prazo. Daí, identifica-se que o problema principal não seja a a memória em si mas a atenção.
A memória imediata – apesar de muitas vezes identificarmos como memória – é uma falha na atenção – aos processos neurológicos relacionados a atenção.
Uma disfunção na atenção afeta também a capacidade de fixação e consequentemente de evocação, portanto afeta a memória. Por este motivo, é comum que alguém que tem um transtorno de ansiedade relate ter lido um livro inteiro, estudado bastante e não conseguir se lembrar. O problema inicial não é a memória em si, apesar da pessoa achar que é, mas sim a atenção. Nos quadros de ansiedade e depressão – o paciente tende a estar focado nos seus pensamentos e tomado pelo afeto do seu humor, não consegue prestar atenção nos acontecimentos que ocorrem. Consequentemente, não consegue fixá-los e depois resgatá-los (ou seja, tem dificuldade de lembrá-los).
ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS DA ATENÇÃO
» HIPOPROSEXIA
É a perda de atenção global.
Características: Não consegue focar atenção naquilo que tem interesse; Perda da capacidade de concentração, fadigabilidade maior e consequente dificuldade em perceber estímulos e compreensão. Lembranças tornam-se mais imprecisas e há maior dificuldade no raciocínio e pensamento.
Quando ocorre: Rebaixamento da atenção comum nos quadros de depressão. Quanto mais grave o estado depressivo menor seu nível de atenção.
É comum que na entrevista clínica, não consiga focar atenção no psicólogo ou psiquiatra. Abstrai com muita facilidade.
» APROSEXIA
Abolição da atenção.
Características: Não há qualquer capacidade de concentrar-se, de dirigir atenção.
Quando ocorre: Típico em pacientes em coma e catatônicos, quadros extremamente graves.
» DISTRAÇÃO
Super concentração numa área e total abstração para as demais.
Não é uma patologia, mas um sinal » Hipertenacidade e hipovigilância.
» DISTRAIBILIDADE
Um estado patológico onde há dificuldade de deter-se em um determinado assunto, facilidade em pular de um assunto à outro.
ALTERAÇÕES QUALITATIVAS DA ATENÇÃO
» ESTADO DE RIGIDEZ DA ATENÇÃO
Dificuldade de desviar o foco de sua atenção. Incapacidade de focar em outros objetos, outros assuntos. Alta tenacidade e baixa mobilidade.
Pacientes deprimidos focam em assuntos relacionados a derrotas, tristezas, coisas ruins, conteúdos negativos. Sua atenção está rígida nesses conteúdos – dificuldade de mudar de assunto. A maior queixa de familiares é que eles não conseguem ter outro assunto que não seja esse conteúdo, sua atenção está focada ali.
Pacientes ansiosos focam em suas preocupações, em algo que pode acontecer.
O mesmo ocorre com pacientes com TOC, a atenção está voltada ao mesmo conteúdo. Não adianta ‘dizer’ para se distrair, ele não vai. O foco dele está voltado ao objeto do TOC, ao seu pensamento obsessivo.
Paciente com transtorno alimentar foco na temática da comida, no conteúdo foco de seu transtorno.
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» ESTADO DE MOBILIDADE DA ATENÇÃO
Dificuldade oposta à rigidez, dificuldade em focar. A atenção é desviada o tempo inteiro pelos estímulos que surgem. Baixa tenacidade e alta mobilidade.
Pacientes ansiosos não são capazes de ignorar os estímulos externos que surgem para se manterem no seu objeto principal de foco.
Pacientes com TDAH também apresentam a mesma característica.
Portanto, a atenção não pode ser o elemento do diagnóstico diferencial entre os dois perfis, as demais funções e histórico dos sintomas que vão diferenciá-los.
ATENÇÃO NOS TRANSTORNOS MENTAIS
» TRANSTORNOS DEPRESSIVOS
Hipoprosexia » rebaixamento global;
Rigidez da atenção » autocentrado;
Foco em fracasso, doença, culpa, pecado e ruína. O indivíduo tende a se fechar, não olhar o mundo ao seu redor, fica mais interiorizado.
» TRANSTORNOS ANSIOSOS
Hipotenacidade » dificuldade em ter mobilidade de atenção. Foco no assunto ansiogênico.
» TRANSTORNO BIPOLAR - EPISÓDIO MANÍACO
Hipermobilidade » troca frequente de foco;
Hipotenacidade » dificuldade em concentração.
A atenção salta rapidamente de um ponto ao outro. Fica agitado e não consegue focar.
» ESQUIZOFRENIA
Hipoprosexia » rebaixamento da atenção geral
Aprosexia » em casos mais graves, com o total rompimento com a realidade
Rigidez da atenção » conteúdo delirante. Hiperconcentrado no conteúdo do delírio.
Hipermobilidade » Suscetíveis a distrair-se com informações irrelevantes, estímulos visuais e auditivos.
» TDAH
Dificuldade em direcionar e manter atenção assim como em controlar impulsividade. Há problemas na atenção alternada e sustentada.
» TOC
Vigilância excessiva ao pensamento obsessivo. Prejuízo na atenção alternada.
» TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS
Delirium » Distúrbios de atenção estão sempre presentes.
Transtornos Cognitivo Leve » Comum em idosos, maior demora para realizar tarefas cotidianas.
Demência de Alzheimer » Dificuldade em tarefas de concentração e foco. Comprometimento da atenção seletiva e dividida.
Demência Frontotemporal » Prejuízo da atenção, pode apresentar distraibilidade.
Demência Corpos de Lewy » Prejuízo mais acentuado que Demência de Alzheimer
RECOMENDAÇÕES
Livro - Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais » Paulo Dalgalarrondo
Minha leitura da vez e que fala muito sobre o excesso de estímulos que vivemos atualmente » Nação Dopamina